Quão fugaz e precária são as alegrias experimentadas pelo “homem estético” de que fala Kierkegaard nesses tempos modernos em que vivemos!
Tão instáveis quanto as alterações de temperatura em regiões desérticas, dias de extremo calor, noites de extremo frio. Nada muito além disso. Ainda assim, segue sendo prazeroso descobrir mais um título escondido pelo Sebo Cordélia. Dessa vez encontrei “Rastos Luminosos”, de Luiz Waldvogel, segunda edição publicada no ano de 1935, que traz nada menos que breves biografias de brasileiros ilustres a fim de “tornar conhecidos alguns dos vultos mais notáveis de nossa terra, e incutir nos moços da geração nascente a aspiração de imitar as nobres qualidades que tão prodigamente lhes ornavam o caráter”.
É uma obra pequena e muito bem intencionada, com detalhes curiosos de grandes personalidades já enterradas debaixo das espessas camadas de memória curta dos brasileiros.
Percorrendo o índice dois capítulos me chamaram atenção: “O pequeno escravo que não encontrou comprador”, referindo-se a Luiz Gonzaga Pinto da Gama, um dos maiores abolicionistas, escritores e intelectuais autodidatas do Brasil do século XIX, do qual raramente se ouve falar nos bancos escolares. Foi cofundador, junto a Angelo Agostini, do jornal humorístico e político “Diabo Coxo” (1864–1865), além de fundar o jornal “Radical Paulistano” em 1869, ao lado de Rui Barbosa, o Águia de Haya, que ocupa as paginas finais deste volume que tenho em mãos.
O outro capítulo, dedicado a Euclydes da Cunha, tem título também curioso. Homem de grande modéstia, receoso da crítica da imprensa, escolheu esconder-se grande parte da vida no interior. Sobre o ilustre conta-se que certa vez fora convidado a um banquete de cerimonia e recusando-se a comparecer de traje a rigor meteu-se na casaca resmungando “com isto eu até pareço um gafanhoto!”.
Anedotas tão graciosas quanto dispensáveis são uteis para compor o colorido de uma vida que deixa rastros. As obras conhecemo-las, mas e a vida? Como fora a vida de tantos brasileiros? Sempre haverá – graças a Deus! – detalhes a descobrir, causos a se contar. E com isso a historia permanece, se enriquece e é passada adiante.
E sempre há um algo a se guardar dessas leituras curiosas e dispensáveis, como sabiamente observa o autor, “muita vez as adversidades da vida são o cadinho em que se acrisolam as almas fadadas a grandes surtos, a forja cruel mas necessária, em que se tempera a eneria indômita das vontades de aço.”
Rastos Luminosos – Biographias de brasileiros ilustres, de Luiz Waldvogel, São Paulo editora ltda., 1935, 2ª edição.