Toda vez que falo com meu cachorro como falaria com um bebê valido a premissa de que sou um homem ridículo. Minha voz se infantiliza e o pequeno animal pula freneticamente ao meu redor até que eu o pegue no colo. Nesses momentos sou tomado por um delírio peculiar de comunhão entre o homem e a natureza. Não há explicação racional para isso, embora produza um enorme prazer – a ambos.
Também não há explicação racional para aquele tipo de pessoa que, quando viaja, monta num camelo e tira foto em meio às dunas do Rio Grande do Norte fingindo estar no deserto. Ou leva a família para visitar tigres anestesiados num safari africano. Ou paga para montar num elefante acorrentado na Tailândia em busca de paz espiritual.
O homem subjuga os animais, é um fato. Não raro, entretanto, nossa capacidade de percepção do ridículo fica bastante comprometida.
E embora sejam vastas as situações constrangedoras em que uma única pessoa consegue se colocar sem muito esforço, há um tipo de homem ridículo que gosto de revisitar em minhas reflexões: o verborrágico. O tipo que suga a atenção em almoços de família para vomitar as conclusões de uma vida frustrante, na qual não logrou êxito algum em ganhar dinheiro (qualquer dinheiro), constituir família e, é óbvio, apreciar a comida de boca fechada.
Um homem majoritariamente ridículo como o verborrágico – sim, há uma escala de ridículo que não convém explicitar agora – não tem nada a oferecer a outros senão apontamentos sobre a estupidez…. própria. E algumas risadas proporcionais à quantidade de álcool disponível no local.
Seguimos, ridículos que somos, aprimorando vertiginosamente a arte de amar o próximo e não suportar o semelhante. E sufocado pelo absurdo de uma vida desprovida de sentido, o estupido ri, sem entender que o riso é a catarse que anuncia a possível retomada de consciência. Um tapa na nuca. Mas um tapa em vão. A esperança de recobrar a postura vai pelo ralo com mais uma observação ignóbil do homem ridículo sobre o político corrupto da vez, o camelô que saiu no jornal nacional ou o custo-benefício do carro elétrico chinês.